sexta-feira, 12 de outubro de 2007

MEMÓRIAS DE RISHIKESH – O ENCONTRO COM A MULHER SANTA 1


Guru, mestre, iluminação, santidade. Se existe lugar para a gente dar asas à imaginação sobre estas coisas espirituais, este lugar é a Índia. Dez horas de trem entre a caótica estação de Velha Delhi e a pacata Rishikesh, cravada no sopé dos Gigantescos Himalayas, o ar frio atravessando as narinas, aproximavam-me de meu primeiro objetivo naquele solo sagrado: o mosteiro onde o deslumbrante ensinamento de Advaita Vedanta era ensinado numa tradição milenar, uma raridade até mesmo na Índia.

- Swami Dayananda Ashram, por favor! Pedi ao motorista do auto-rikshá, uma espécie de lambreta com cabine para motorista e passageiro.

- 20 rúpias! Replicou o motorista acertando o preço da corrida.

- Obrigado, agradeci enquanto fazia menção de sair daquele táxi de brinquedo.

- Ok, ok, 15 rúpias, recuou o rapazinho sorridente.

- 10, negociei. Fechamos em 12.


O ashram, isto é, o mosteiro de Swami Dayananda, era moderníssimo. Sistema de tratamento de água, televisão de 29 polegadas, fax e computador. Um luxo raríssimo para o ano de 1989. Atravessei o portão gradeado, que permanecia aberto durante todo o dia e dirigi-me a uma pequena sala na qual funcionava a secretaria.

- Bom dia, disse-me uma senhora de sari cor de laranja que regava flores numa pequena jardineira à frente da secretaria. Respondi-lhe com um sorriso, mostrando-lhe um envelope que trazia do Brasil para o diretor do mosteiro. Ela gentilmente me apontou um rapaz com roupas ocidentais.

Expliquei-lhe do que se tratava, entreguei o envelope e despedi-me. Quando já me preparava para sair, o rapaz chamou-me.

- Aonde você vai, meu amigo abençoado?

- Tentarei pegar o trem para Madras ainda hoje.

- Não, você deve ficar conosco aqui por algum tempo. Uma semana. Você acaba de receber uma grande benção. Aquela mulher é uma santa e ela lhe concedeu duas bênçãos muito raras e especiais: seu olhar e sua palavra. Fique aqui conosco. Há algo especial para você descobrir.

Aquelas palavras me pareceram absolutamente verdadeiras. Sem questionar, concordei. Desde os preparativos até minha chegada à Índia, eu me perguntava, sem obter qualquer resposta, afinal, o que é que eu estava fazendo ali? Sentia-me um doido, indo para um lugar distante e estranho, movido por uma força maior que a do meu desejo, sem saber o motivo. Algumas semanas depois eu descobriria todas as respostas das quais precisava.


Continua.

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